
Há cerca de 2.500 anos o filósofo Platão observou que havia uma ignorância dependente da percepção humana. O mito da caverna de Platão retrata o seu exercício imaginativo de alguém preso em uma caverna, que conhecia o mundo apenas pela projeção das sombras em suas paredes. Sombras de estátuas, por exemplo, lhe pareceriam pessoas imóveis e nessa linha de raciocínio teria uma visão altamente restrita do que é o mundo na verdade. Apontava, assim, que as pessoas se enganavam em suas avaliações e conclusões por limitações do seu campo de visão ou de análise.
Atualmente é possível acrescentar outros elementos à brilhante conclusão de Platão quanto ao ponto de vista do prisioneiro. De fato, é comum cometermos erros de todos os tipos em decorrência da nossa ignorância sobre os assuntos com que lidamos. Contudo, há a necessidade de avaliar também se de fato temos a competência para tal percepção. Ou seja, podemos não conseguir perceber algo por restrições ao nosso intelecto, pela falta de determinado tipo de conhecimento. Por exemplo, nem todo mundo compreende a grande correlação entre a alta do dólar e a inflação. Podemos encontrar ossos de aves extintas num parque florestal e acharmos que são ossos de galinha… Enfim, os exemplos do nosso cotidiano podem ser inúmeros.
Mas a nossa limitação intelectual pode ser suprimida pelo aprofundamento e pelo estudo de um determinado tema, porém ainda assim haverá pessoas que por mais que leiam ou estudem não encontrarão as respostas mais elementares. Isso porque a grande maioria de nós tem aptidões específicas para temas, como é o caso dos advogados por leis, físicos por matemática, médicos por biologia etc. Se trocarmos tais profissionais por diferentes aptidões teremos um monte de gente inteligente extremamente confusa…
Há ainda outro tipo de deficiência, de natureza muito mais grave. São as deficiências neurológicas, que alteram completamente a percepção do mundo, impedindo que as conclusões aparentemente mais lógicas sejam impossíveis de atingir. A ciência ainda está engatinhando na direção do aprendizado a respeito de como a mente funciona, e sua especialidade ainda é apenas diagnosticar as consequências sintomáticas, e não as causas biológicas, mas é útil sabermos identificar patologias como:
- Autismo – dificuldade de compreender a comunicação social
- Agnosia facial – não reconhece rostos. Agnosia em geral pode acometer outros sentidos.
- Esquizofrenia – dificuldade em distinguir o imaginário (delírios) da realidade
- Síndrome de Tourette – compulsão por xingamentos
- Dislexia – dificuldade para interpretar a própria leitura
São muitos os exemplos de anomalias, mas o que considero importante é o autorreconhecimento de nossas próprias deficiências, seja as de uma ou de outra natureza, inclusive circunstanciais, como nas vezes em que avaliamos algo sob forte emoção.
Mas até mesmo as convicções que assumimos também podem ser um perigo. É o caso, por exemplo, do que os cientistas chamam de "raciocínio motivado", que ocorre quando alguém, querendo provar algo, seja honesta e sinceramente ou não, usa todo e qualquer argumento para suportar a sua teoria. É um caminho muito duvidoso, costumeiramente adotado por advogados de criminosos, a quem não importa a precisão dos fatos, mas sim o interesse em salvar o meliante. Cientistas, e pessoas razoáveis, agem completamente diferente: uma vez identificada uma falha na teoria, param tudo e recomeçam o caminho em busca da verdade. É como procuro pensar.
Logo, já que não podemos fugir de nossa humanidade, de nossas limitações, penso que o mais importante é que deixemos de lado a arrogância que nos leva a acreditar que apenas nós conhecemos e estamos certos sobre determinado assunto. Acredito ser fundamental, até sábio, que nos acostumemos a escutar mais o outro e compreendê-lo em suas idênticas limitações.
Há muitas confusões, com resultados trágicos, no cotidiano quanto a essa mistura intensa entre realidade, percepção, inclinação e competência de análise. Vejamos o caso, por exemplo, do Exército Islâmico, que resolveu acreditar que conhece profundamente os intrincados desejos de Deus. Lula também deve achar que o que cobrava da Odebrecht era justo pelo que achava que fez pelos pobres. Enfim, cada doido…
Mas até mesmo as convicções que assumimos também podem ser um perigo. É o caso, por exemplo, do que os cientistas chamam de "raciocínio motivado", que ocorre quando alguém, querendo provar algo, seja honesta e sinceramente ou não, usa todo e qualquer argumento para suportar a sua teoria. É um caminho muito duvidoso, costumeiramente adotado por advogados de criminosos, a quem não importa a precisão dos fatos, mas sim o interesse em salvar o meliante. Cientistas, e pessoas razoáveis, agem completamente diferente: uma vez identificada uma falha na teoria, param tudo e recomeçam o caminho em busca da verdade. É como procuro pensar.
Logo, já que não podemos fugir de nossa humanidade, de nossas limitações, penso que o mais importante é que deixemos de lado a arrogância que nos leva a acreditar que apenas nós conhecemos e estamos certos sobre determinado assunto. Acredito ser fundamental, até sábio, que nos acostumemos a escutar mais o outro e compreendê-lo em suas idênticas limitações.
Há muitas confusões, com resultados trágicos, no cotidiano quanto a essa mistura intensa entre realidade, percepção, inclinação e competência de análise. Vejamos o caso, por exemplo, do Exército Islâmico, que resolveu acreditar que conhece profundamente os intrincados desejos de Deus. Lula também deve achar que o que cobrava da Odebrecht era justo pelo que achava que fez pelos pobres. Enfim, cada doido…
Na prática, portanto, a verdade parece ter várias faces, mas nem isso sequer é verdade. A verdade costuma ser uma só, a que apelidei de “real realidade”. O problema é que ela costumeiramente se esconde abaixo de muitas camadas de informações, sutilezas, interpretações e limitações, onde parece repousar irônica e desafiante no meio de um intrincado labirinto.
Acho que a única saída para frustrá-la em sua arrogância e superioridade inatingível é diante das grandes questões não desistirmos de encarar de pé as tortuosidades de seu labirinto repetindo, humildes, no caminho, aquilo que o mestre de Platão, Sócrates, nos ensinou: “Só sei que nada sei”. E completar: “Mas não vou desistir”.
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