A bioquímica que envolve o sentido da visão nos dá uma pequena ideia da imensa complexidade contida nas ações do Criador. Mas, será que um deus de tanta grandeza e sofisticação vê como errado o belo e sensual rebolado da mulata, o qual é, também, fruto de sua própria criação?
A ciência conhece alguns dos principais mecanismos pelos quais você e eu estamos lendo esse texto agora. Sabe, por exemplo, que em nossa retina estão cerca de 120 milhões de fotorreceptores (cones e bastonetes) (*) sintetizando e operando pelo menos 14 processos químicos diferentes a uma velocidade indescritível, com o objetivo de transformar fótons em impulsos elétricos de comprimento de onda específico para viajar por meio de estreitos nervos óticos até o cérebro, gerando imagens invertidas na região occipital. Dali são retransmitidos ao córtex visual, onde são “interpretados” corretamente. De como essa “interpretação” acontece, entretanto, sabe-se quase nada.
Esses processos operam pelo menos 17 substâncias diferentes, da seguinte forma:
Para que os suprimentos de 11-cis-retinal, cGMP e íons de sódio não se esgotem, precisam acontecer outros processos químicos:
À parte as discussões entre a ciência da evolução e as teorias religiosas ou do design inteligente, os mistérios do fantástico sentido da visão são exponencialmente aumentados no ponto onde a ciência não consegue justificar em termos neurológicos a experiência interna da visão, uma vez que não há nenhuma explicação para o chamado fenômeno da “interpretação” dos sentidos. Esse é o desafio central investigado profundamente pelo renomado neurocientista Antonio Damasio. Em seu trabalho, conclui que o sentimento de “eu”, de quando estamos acordados, não é afetado por nenhum tipo de anomalia cerebral, seja AVC, autismo, esquizofrenia, Alzheimer, lobotomia, choque traumático etc. Um mistério compactuado por importantes cientistas de diversas áreas. O físico igualmente renomado Leonard Mlodinow, no livro “Ciência x Espiritualidade”, nos sugere que tal desafio possa ser intransponível:
“O “problema difícil” – a questão de saber de onde vem a experiência interna – continua sem solução. Tal conhecimento pode vir no próximo século ou no próximo milênio. Ou, se forem complexas demais para a compreensão humana, talvez não cheguem jamais.”
Minha teoria pessoal para o enigma da experiência interna do “eu” e dos sentidos leva em conta a existência do multiverso. Como a essência da ciência é a comprovação por testes, e estando o multiverso fora de seu alcance, talvez seja esse um limite intransponível para que os cientistas possam vislumbrar a face de Deus (ou de seu equivalente.)
Há muitos outros desafios que poderíamos levantar quanto aos inúmeros outros problemas com os quais o Criador se debruçou para nos criar, a começar pelo DNA humano, feito de 3,2 bilhões de pares de nucleotídeos estruturados por cerca de 180 bilhões de átomos que se multiplicam a uma velocidade vertiginosa e com absoluta precisão, especialmente quando ainda somos "simples" embriões ou fetos. Desafios esses que nos fazem refletir com entusiasmo aquilo que possa ser de fato importante diante dos Seus interesses e objetivos mais elevados.
Nesse último Carnaval o atual prefeito do Rio de Janeiro não deu a menor bola para o desfile das escolas de samba, uma das principais festas turísticas do mundo, nem que fosse para entregar as chaves da cidade ao tradicional Rei Momo. Além disso, cortou 50% - dessa vez, acertadamente - dos subsídios à liga das escolas de samba para o ano que vem. Recursos que terão muito melhor uso se de fato forem corretamente aplicados na educação de crianças.
O problema é que olhando em perspectiva as duas ações, parece-me claro que suas decisões tiveram apenas suporte na intolerância religiosa, opinião corroborada por ironias não profissionais de seu secretário, Rubens Teixeira. Decidir assim, de forma a não parecer contraditório em sua pregação nas igrejas de que carnaval é incentivo ao pecado, é errado. É misturar religião com administração pública.
O problema é que olhando em perspectiva as duas ações, parece-me claro que suas decisões tiveram apenas suporte na intolerância religiosa, opinião corroborada por ironias não profissionais de seu secretário, Rubens Teixeira. Decidir assim, de forma a não parecer contraditório em sua pregação nas igrejas de que carnaval é incentivo ao pecado, é errado. É misturar religião com administração pública.
O fato é que o deus que criou os nossos olhos e os do Crivella, certamente estaria bem mais satisfeito se esse pastor deixasse de hipocrisias e parasse de se comportar como um atrapalhado bajulador daquele que reside no infinito, envolvido em questões muito mais profundas. Que cuidasse da cidade maravilhosa com maior competência e afinco.
Acho que Ele teria gostado que o prefeito tivesse pelo menos prestigiado com o seu olhar, respeitosamente, o belo gingado da sensual mulata do Carnaval na Sapucaí.
Notas:
(*) Uma TV 4K possui cerca de 8 milhões de pontos (pixels). Mas o cérebro trabalha de tal forma que a imagem que vemos não contenha pontos ou vazios, diferente do que acontece numa TV de alta resolução.
(**) Conforme o bioquímico Michel Beher em seu livro “A caixa preta de Darwin”, de 1997, no tópico “a visão da bioquímica”:
“Quando a luz atinge a retina, um fóton interage com uma molécula denominada 11-cis-retinal, que se rearranja em um picossegundo (um trilionésimo de segundo) e se transforma em transretinal. (Um picossegundo é mais ou menos o tempo que a luz leva para cruzar a largura de um único cabelo humano). A mudança na forma da molécula retinal força uma mudança na forma da proteína, a rodopsina, à qual a retinal está fortemente ligada. A metamorfose da proteína altera seu comportamento. Nesse momento denominada de metarrodopsina II, a proteína cola-se a outra proteína, chamada transducina. Antes de transformar-se em metarrodopsina II, a transducina liga-se fortemente a uma pequena molécula chamada GDP. Mas, quando a transducina interage com a metarrodopsina II, a GDP se desprende e uma molécula chamada GTP cola-se à transducina. (A GTP mantém uma estreita ligação com a GDP, mas é muito diferente dela).
“A GTP-transducina-metarrodopsina II liga-se agora a uma proteína chamada fosfodiesterase, localizada na membrana interna da célula. Quando ligada à metarrodopsina II e a seu grupo, a fosfodiesterase adquire a capacidade química de “cortar” uma molécula chamada CGMP (um elemento químico aparentado a GDP e GTP). Inicialmente, há grande número de moléculas cGMP na célula, mas a fosfodiesterase reduz sua concentração da mesma maneira que a retirada da tampa do ralo baixa o nível de água em uma banheira.
“Outra membrana de proteína que se liga à cGMP é denominada de canal iônico. Ela funciona como um portão que regula o número de íons de sódio na célula. Normalmente, o canal permite que íons de sódio entrem na célula, enquanto uma proteína separada os bombeia ativamente para fora. A ação do duplo canal iônico e da bomba mantêm o nível de íons de sódio na célula dentro de uma faixa estreita. Quando o volume de CGMP é reduzido devido à divisão efetuada pela fosfodiesterase, o canal iônico se fecha, fazendo com que seja reduzida a concentração celular de íons de sódio positivamente carregados. Esse fato ocasiona um desequilíbrio de carga de uma lado a outro da membrana da célula que, enfim, faz com que uma corrente seja transmitida pelo nervo ótico ate o cérebro.
“Se as reações mencionadas acima fosse as únicas que ocorrem na célula, o suprimento de 11-cis-retinal, cGMP e íons de sódio logo seria esgotado. Alguma coisa tem que desativar as proteínas que foram ligadas e fazer a célula voltar ao seu estado inicial. Vários mecanismos se encarregam disso. Em primeiro lugar, no escuro, o canal iônico (além dos íons de sódio) também deixa que íons de cálcio penetrem na célula. O cálcio é bombeado para fora por uma proteína diferente, de modo a ser mantida uma concentração constante de cálcio. Quando os níveis de CGMP caem, fechando o canal
iônico, decresce também a concentração de íons de cálcio. A enzima fosfodiesterase, que destrói a cGMP, diminui em uma concentração mais baixa de cálcio. Em segundo, uma proteína denominada guanilato ciclase começa a ressintetizar a cGMP quando os níveis de cálcio começam a cair. Em terceiro, enquanto tudo isso acontece, a metarrodopsina II é quimicamente modificada por uma enzima chamada rodopsina cinase. A rodopsina modificada liga-se a uma proteína conhecida como arrestina, que impede que a rodopsina ative mais transducina. A célula, portanto, contém mecanismos que limitam o sinal amplificado iniciado por um único fóton.
“A transretinal por fim desprende-se da rodopsina e precisa ser reconvertida em 11-cis-retinal e, mais uma vez, ligada à rodopsina para voltar ao ponto de partida de outro ciclo visual. A fim de realizar isso, a transretinal primeiro é modificada quimicamente por uma enzima e transformada em transretinol – uma forma que contém mais dois átomos de hidrogênio. Uma segunda enzima converte, em seguida, a molécula em 11-cis-retinol. Enfim, uma terceira enzima remove os átomos de hidrogênio previamente acrescentados a fim de formar o 11-cis-retinol, e o ciclo se completa.
“A explicação acima é apenas uma visão muito superficial do todo da bioquímica da visão. Em última análise, porém, esse é o nível de explicação a que a ciência biológica deve aspirar. A fim de compreender realmente uma função, temos de compreender, em detalhes, cada passo relevante ao processo. Os passos relevantes em processos biológicos ocorrem, em última análise, no nível molecular, de modo que a explicação satisfatória de um fenômeno biológico – tal como a visão, a digestão ou a imunidade – precisa incluir a explicação molecular.”
Belo texto Negreiros.
ResponderExcluirAo meu ver existem dois caminhos para se estudar a mente humana: pela observação externa dos fenômenos bioquímicos; ou pela observação interna dos fenômenos biopsíquicos. No primeiro caminho o homem poderá compreender as reações químicas e associá-las as reações biológicas, e com isto permitir, por exemplo, que um deficiente físico possa retornar o uso de seus órgãos de sentido e coordenação motora. Mas no segundo caminho será onde o ser, compreendendo aqui toda a humanidade, poderá compreender os desígnios metafísicos de Deus. Pois descobrirá e compreenderá como as Leis Universais do Criador interferem rotineira e decisivamente no seu ânimo, na sua inteligência, nos seus feitos, nos seus sentimentos, na sua paz e na sua felicidade. Ou seja, ao compreender as Leis Universais e atuar com assertividade estaremos ao mesmo tempo evoluindo e construindo a tão almejada paz e felicidade. Para este segundo caminho também já existe uma nova ciência, tão nova mas menos conhecida que a Neurociência, que se trata da Logosofia. Ciência onde você é seu próprio objeto de estudo e de experimentação científica com método apropriado.
Prezado Marcelo, Muito obrigado pelo seu comentário. Esse assunto é pura metafísica. Matéria complicada. Imaginemos, por exemplo, como a ciência afirma, a ideia de um googleplex de universos. Existindo um deus ou equivalente, para monitorar a coisa toda, demandaria, por exemplo, regras que não são aplicáveis ao nosso universo conhecido.
ResponderExcluirO que poderia haver em comum? Será que há leis "multiversais"?
Poderá haver uma equação que acomode toda essa situação em torno de um "deus" só? A título de exemplo, diferentes vetores de espaço-tempo se intercruzando tendem a tornar qualquer resposta algo incompreensível para nós.
Mas, quem vai saber? Às vezes a resposta esteja mesmo no simples...
Muito obrigado.
Pode parecer impossível, mas estas regras estão todas lá, no nosso universozinho, rsrs. Para acessá-las pode levar uma vida inteira ou muitas vidas, e seu acesso pode ser impulsionado por meio de um processo de evolução consciente com método próprio. Cada um por meio da sua própria experiência de vida já obtiveram certa sabedoria, ainda que conquistada de forma não tão consciente. Certamente alguém com 90 anos tem mais sabedoria que o mesmo alguém aos 18 😉
ExcluirO que diria de alguém, digamos aos 21, alcançasse tão ou maior sabedoria de quando este mesmo alguém tivesse aos 90? Não seria algo interessante? É disto o que se trata da ciência logosófica. Só mesmo assistindo a algumas palestras da Fundação Logosófica e lendo alguns de seus livros para apreciar melhor este novo e inexplorado saber. Vide site: logosofia.org.br
ExcluirCom um livro texto (teoria), um método e um campo experimental consciente, com três anos pode se aprender mais que toda uma vida. Imagina aprender as Leis da física num laboratorio de física completo... mas sem o livro texto. Em quanto tempo alguém levaria para descobrir todas as Leis da física?
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