Redução dos municípios, do Estado e o Analogismo Fechado, por Ricardo Negreiros

O Brasil tem vários tumores. Um dos maiores é o tamanho do Estado, e aqui enfatizo a minha ideia de recompactação dos municípios (e de toda a sua estrutura burocrática) enquanto também sigo questionando o tamanho excessivo do Legislativo. Por exemplo, de imediato proponho a redução de 80% de legisladores remunerados. Se alguém defende mais do que 20% do número atual, que pague do seu próprio bolso ou crie associações de voluntários para cobrar os eleitos. Num país onde deveria haver tranquilidade para empreender, não é necessário esse volume absurdo de legisladores, ainda mais quando não cumprem direito nem a sua função de fiscalizar o Executivo. Quanto menos legisladores, melhor a evidenciação de suas atividades e a fiscalização pelos eleitores. Muita gente sem fazer nada se esconde do trabalho.
A comparação desse legislativo inchado com um tumor canceroso é válida porque a definição de tumor, ou neoplasia, é “uma forma de proliferação celular não controlada pelo organismo, com tendência para a autonomia e perpetuação” (*), exatamente o que ocorre com os políticos em suas sanhas diárias por drenagem de recursos do contribuinte.
A única forma de tratar tumores é extirpando-os, extraindo e drenando o tecido inútil. Em seu desenvolvimento, um tumor absorve energia e nutrientes que deveriam ser usados nas áreas essenciais do corpo, seja com anticorpos na defesa contra doenças, na energia do cérebro (20% do total), em reposição da infraestrutura de ossos e músculos etc. Imagine a economia se pudéssemos reduzir de forma contundente a classe legisladora com o objetivo de sobrar mais recursos para segurança pública, saúde, educação etc. Bilhões de reais realmente úteis para o povo na atividade fim, que é essencialmente exercida pelo Poder Executivo.
Observe o volume total de indivíduos eleitos por nós, brasileiros:
Podemos, por analogia, dizer que a população brasileira é como um corpo vivo cuja função de gerenciamento geral é exercido pelos governantes, no que poderíamos chamar de “cérebro”. Para mim está muito claro que há gente demais eleita em comparação a essa resultante desastrosa que estamos vendo por todo o país. Isso sem contar os gastos bilionários com assessores e custos relacionados a suas “ atividades”.
Por exemplo, como pode funcionar bem um órgão chamado Congresso Nacional, com 594 indivíduos batendo cabeça para tentar se destacar e mostrar serviço? Como suportar também os governos estaduais do RJ com 70 deputados estaduais, São Paulo 94, Minas Gerais 77, Bahia 63 e assim por diante? (Ver Fig. 2)
Exploremos um pouco mais o caso dos deputados estaduais. A regra constitucional de quantidade é para ser o triplo da quantidade de deputados federais de um estado. Quando esse triplo é superior a 36, soma-se à resultante a diferença entre o total de federais e 12. Que conta mais estranha! Para que tanta gente? Para comprar eleitores com bugigangas e roubar o Estado?
Mas, tem mais, pois no caso de vereadores a coisa foge também a qualquer conta razoável. A Constituição estabelece um mínimo de 9 e um máximo de 55. Para que? Projetos para trocar nomes de praças? Proibir sal na mesa de restaurante? Medalhas de homenagem disso e daquilo? Olhemos, portanto, alguns números importantes:
1)     Em havendo um mínimo, todo município acaba sendo obrigado a ter despesas com vereadores. Exemplo: uma cidade com apenas 15 mil habitantes precisa eleger 9 vereadores, o que dá 1.667 contribuintes para cada vereador. No caso do Rio de Janeiro, com 6,32 milhões de habitantes temos 51 vereadores, o que já é também muito, mas numa média de 124 mil contribuintes por vereador. E, claro, não interessa se um vereador ganha muito ou pouco numa cidade menor ou maior.
2)     Ainda que haja pouca densidade populacional em determinado estado, quanto mais municípios houver, mais vereadores existirão. Note na figura 2 a comparação entre o estado RJ e os estados PI e TO. Ainda que o RJ tenha uma população muito maior que os outros dois, possui muito mais contribuintes por cada vereador, sendo um pouco mais econômico.
Sabendo-se que vários estados e a grande maioria dos municípios não são capazes de se manter apenas com recursos próprios, dependendo sempre de ajuda federal, há uma transferência decisória importante para Brasília. O governo federal, portanto, acaba adquirindo um enorme poder político decorrente dessa centralização. Então é preciso pensar em formas de descentralizar a gestão do dinheiro público, mas não sem antes aperfeiçoar a economicidade dessas perdulárias e perigosas estruturas legislativas. É fundamental que se discuta a redução do Legislativo ao mesmo tempo em que se avalie modelos de compactação dos municípios para resultar em um número menor e mais representativo.
Quanto ao Executivo, também podemos promover grande redução nas estruturas onde operam, seja com menos ministérios, secretarias, adoção de CSCs, conforme sugeri em outros posts e no Reinventando Cidades. Mas chamo a atenção para se também precisamos eleger vices. Sabendo que nos casos de impedimento há uma linha sucessória clara, para que precisa eleger um vice-prefeito? Os vices não costumam ter grandes atribuições diárias, mas custam muito caro ao contribuinte. Para mim, o correto é que o presidente da Câmara de Vereadores assuma em caso de vacância do prefeito, e vida que segue.
Você pode ainda estar se perguntando: e o tal analogismo fechado? Bem, essa é uma expressão que criei em 2002 para designar o estranho fenômeno do alinhamento entre comportamentos dos chamados “seres inanimados”, sob as leis da Física conhecidas em nosso universo (fechado), com aquilo que reconhecemos como comportamento humano. Durante o texto acima, algumas analogias foram feitas, como tumor e excesso de legisladores, anticorpos e segurança pública etc. Mas esse assunto também pode ser explorado futuramente em outras reflexões. 

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