Pequenas empresas, grandes obstáculos, por Ricardo Negreiros

Empreendedores levam grande parte do seu tempo avaliando novos negócios. Mas será que analisam de forma apropriada os desafios? Frequentemente recebo perguntas quanto a determinados planejamentos, mas o que vejo? Ora hipóteses de números irreais de faturamento, ora negligência ou descuido na apuração dos gastos potenciais. A chance de ser bem-sucedido sem uma boa análise é muito menor do que a de um resultado ruim.
É preciso o máximo cuidado para planejar uma empresa, organizando uma série de análises, como condições de compra de matérias primas, desenvolvimento de produtos, estratégia de vendas, avaliação de um bom ponto comercial a preço viável, capital de giro para manter o negócio deficitariamente pelo tempo necessário à sua maturação, contratação e treinamento de empregados de qualidade, e tantos outros desafios operacionais. Costuma-se ter uma ideia geral desses riscos, mas infelizmente não é comum avaliar a partir de que nível de vendas a empresa dará lucro, e qual a dificuldade para atingir essas vendas.  
Uma vez iniciado um negócio, a imensa maioria se guia apenas pelo fluxo do caixa, ou seja, olha apenas se entra mais dinheiro do que sai. Isso é perigoso. É preciso avaliar o resultado efetivo das operações. Além disso há os impostos. Apostando na incapacidade do pequeno empresário em criar e manter um sistema contábil que lhe informe se está obtendo lucro ou prejuízo, o governo estimula o uso do Simples. Esse sistema de tributação é na essência a soma dos impostos sobre faturamento (Pis e Cofins) com os incidentes sobre o lucro (IRPJ e CSLL), presumindo que exista certo nível de lucratividade. O problema é que o Simples tributa a empresa desde o primeiro dia, sem se importar se está obtendo lucro ou não.
Uma regra tributária realmente simples poderia atenuar este problema: os novos empreendedores, em especial os menores, só deveriam começar a pagar tributos sobre o lucro quando já tivessem resgatado todo o valor investido no empreendimento (pay back). Seria tanto um incentivo ao empreendedorismo como a incidência de um imposto mais justo. Como controlar essa mecânica? Bem, isso é muito fácil, considerando-se o alto grau de tecnologia da Receita Federal. Basta querer respeitar esses bravos brasileiros.
O Estado, e sua fúria arrecadatória, precisa se afastar para que o empreendedor se concentre nos seus intrínsecos desafios. Impostos e juros altos, paralisantes regras trabalhistas são problemas criados por governos populistas e perdulários. Se não houvesse essas preocupações teríamos empreendedores mais focados naquilo que realmente interessa numa empresa: entendimento e atendimento do mercado, monitoramento da concorrência, melhor gestão de estoques, custos e preços, aperfeiçoamento de produtos, inovação etc., crescendo e empregando mais pessoas. Sobraria até mais tempo e, quem sabe, recursos, para colaborar com a sociedade à sua volta, como ajudando a formar mais empreendedores nas escolas, colaborando com projetos socioambientais etc. Enfim, um empreendedor na plenitude de seu potencial e importância social.

Comentários