Incomoda-me
a frequência de uso do termo “desigualdade” como algo intrinsecamente injusto em
virtude da diferença de remuneração entre pessoas que ganham por seu trabalho
um valor muito baixo em comparação a outras que ganham muitas vezes mais. Há
distorções? Claro, mas não acho que seja a regra geral.
Tenho
38 anos de vida profissional, sendo 21 como assalariado e os últimos 17 como
prestador de serviços. Acredito não haver diferença conceitual entre um tipo e
outro de contrato de trabalho, como também não deveria haver quanto a
servidores públicos. Ou seja, podemos e devemos ser remunerados pelo valor que
geramos àquele que nos paga, logo, é preciso ter em mente o tempo todo:
1. O
que um empregado ou prestador de serviços vende é o binômio “tempo + talento”.
Tempo, por sua vez, é mercadoria que não se repõe. Quem presta serviços tem
sempre urgência em vender o seu tempo. Quem é empregado deve reconhecer que o
seu tempo (empenho) remunerado precisa ser igualmente bem usado.
2. O
comprador de nosso produto (trabalho = força física e/ou intelectual), chamado de
consumidor, contratante ou empregador, pode ou está disposto a arcar com o valor
que estamos pleiteando/recebendo?
3. O
que entendemos estar gerando de valor para o contratante (ou empregador) é
percebido/atribuído da mesma forma por ele?
4. Há
uma relação equilibrada entre oferta e procura do que fazemos ou vendemos? Ou
seja, qual é o preço que equilibra aquilo que se quer contratar em relação ao
que é oferecido?
5. Ressentimento
e orgulho não têm espaço na vida profissional de quem almeja o sucesso. Negócios são negócios.
A vida em sociedade, que começou há muitos milhares
de anos, evoluiu e se amalgamou a partir da utilidade recíproca entre seus
membros, logo, pautada pela competência e contribuição de cada um. Destacam-se,
por exemplo, os animais alfa, cujas condições naturais de liderança derivam
basicamente de seus talentos congênitos, seja por uma capacidade física maior
ou uma astúcia mais acentuada. Há também nos grupos sociais uma massa volumosa de
talento mediano e uma base menor e um pouco menos talentosa, no sentido da
capacidade de oferecer valor ao grupo, todas vivendo desafios hierárquicos já
comentados em outro post (*).
Em minha opinião, o grande poder da Humanidade está em nossa fabulosa capacidade de comunicação e por meio dela um imenso potencial de
desenvolvimento de habilidades, as quais precisam ser trabalhadas duramente. Talentos especiais aparecem com frequência e se desenvolvem independentemente de forma física, cor, sexo, região ou religião, como as fotos acima exemplificam. Alguns indivíduos nascem com uma ou outra
aptidão mental maior congênita, como no campo da matemática, física, biologia,
línguas etc. Do lado físico há quem nasça com maior capacidade fisiológica para correr, driblar, nadar etc. Importante, entretanto, ressaltar que sem dedicação absoluta para desenvolvê-las não valem muita coisa.
O
problema em geral está na seguinte pergunta: e quando fazemos parte da grande
massa mediana? O que fazer quando nossos talentos inatos não são muito maiores
que a média? Ou quando nascemos em um meio pouco estimulante ao nosso
desenvolvimento potencial? Eis o ponto central – ou decidimos que estamos
satisfeitos com a relação custo-benefício que a natureza nos atribuiu ou iremos
nos desdobrar muito mais que a média, o que significa estudar mais, treinar
mais, trabalhar mais. Queremos nos acomodar no papel de vítimas ou lutar como senhores de
nossos destinos?
Reconheço
que há muitas pessoas com dificuldades em certos aspectos que a natureza lhes atribuiu,
como dislexia (déficit de leitura), dificuldade para matemática etc. Ainda que
eu acredite na plasticidade do cérebro para enfrentar e contrabalançar tais
deficiências, admito que a falta de apoio familiar e/ou a luta pela sobrevivência
mais imediata possam levar uma boa parte das pessoas a desistir de se superar. No entanto, confio 100% na ideia de que todo mundo tem um ou mais talento ou habilidade
relevante, seja mental, físico ou operacional. Essa é a razão pela qual vemos tanta gente extremamente
dedicada que se destaca por sua excelência como comerciantes, padeiros, cozinheiros, costureiros,
eletricistas, mecânicos, pedreiros, faxineiros e tantas outras atividades dignas
que são altamente valorizadas em nosso dia a dia e podem gerar ganhos até
bem maiores do que de atividades que dependam de graduação ou dedicação acadêmica.
Diante de tanta evidência prática, acredito que tudo é uma questão de “preço x oferta de empenho”, seja no campo local,
regional ou internacional. Mesmo nessa crise há muitas oportunidades em atividades
que hoje ninguém se oferece assim como tarefas/serviços que não decolam porque
seus vendedores não flexibilizam preços. No momento em que o governo brasileiro
se esforça para libertar a todos das amarras legais que impedem a livre
negociação do preço do trabalho cabe a cada cidadão saudável se perguntar o
quanto de esforço quererá imprimir para mostrar sua capacidade de gerar valor a
terceiros.
Quanto
ao sucesso de ponta, o mercado de trabalho é claro: se o indivíduo se dedicar mais que a
média, será disputado por contratantes/empregadores lúcidos e a posição de destaque que
almeja será apenas uma questão de empenho, tempo e paciência.
Não nos faltam exemplos.
P.S. Esse post foi desenvolvido com o objetivo principal de analisar como 'produto' a capacidade de trabalho, o tempo e o empenho dos indivíduos e o seu preço correspondente. Contudo, a palavra 'produto' pode ser interpretada como qualquer tipo de bem sujeito a negociação, trazendo consigo os conceitos de esforço investido, valor atribuível e preço a ser pago pelo mercado da forma como foram acima comentados. Dessa forma, o post serve também para reflexão por empreendedores de produtos em qualquer segmento de negócios.
P.S. Esse post foi desenvolvido com o objetivo principal de analisar como 'produto' a capacidade de trabalho, o tempo e o empenho dos indivíduos e o seu preço correspondente. Contudo, a palavra 'produto' pode ser interpretada como qualquer tipo de bem sujeito a negociação, trazendo consigo os conceitos de esforço investido, valor atribuível e preço a ser pago pelo mercado da forma como foram acima comentados. Dessa forma, o post serve também para reflexão por empreendedores de produtos em qualquer segmento de negócios.
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