Empreenda com prudência, por favor! Por Ricardo Negreiros

Um querido amigo me comentou, preocupado, do número de food trucks “encostados”, meio sem uso. Ele me perguntou se seria um problema de gestão. Acredita que o problema seja derivado da incapacidade daquele empreendedor em tocar o negócio. De fato, digo-lhe que a situação pode de fato ser encarada como um problema de gestão, uma vez que ‘planejamento’ é ferramenta essencial da boa gestão. Mas o que seria um bom planejamento? É muito provável que, nesse caso, o empreendedor não tenha sido muito prudente em suas estimativas de vendas potenciais, em que pese estarmos vivendo uma grande crise no país.
Observemos o caso de uma indústria já existente há vários anos, por exemplo, uma fabricante de cerveja. Que etapas demandam cuidado com planejamento nesse tipo de negócio?
Primeiramente imaginemos que esse fabricante esteja em expansão e pretenda abrir uma nova fábrica na região norte do país. Que motivos podem levá-la a tal nível de investimento? O principal é um aumento das vendas que supere o risco e o valor a investir. Precisa computar  com cuidado suas motivações, como a razão por que acredita no aumento do consumo, que pode ser decorrente da emigração em virtude da expansão econômica da região; o oferecimento de incentivos fiscais, ou seja, a redução de impostos como ICMS, por dez ou vinte anos, desde que a fábrica nova empregue pelo menos 1.000 novos empregados; economia dos custos de transporte de mercadorias para aquela parte do país; concorrência fraca etc. Além desses fatores, o planejador daquela nova fábrica precisa estudar como será feito o financiamento daquela nova unidade fabril, inclusive capital de giro, até que se equilibre seu fluxo de caixa. Infelizmente já vi grupos econômicos que, por empolgação, não colocou todos esses fatores em perspectiva, ou seja, não fez um planejamento apropriado. Resultado: construiu uma fábrica fabulosa e inovadora, mas que não chegou a funcionar porque não tinha capital de giro para adquirir matérias primas, contratar operários etc. Fechou e arrastou toda a parte saudável do grupo para um cipoal de dívidas.
Mas há situações bem mais corriqueiras, cotidianas mesmo, que demandam relevante atenção e cuidado do planejador financeiro. Imagine uma indústria de refrigerantes de uma marca qualquer. Que tipo de preocupações seu planejador precisa ter, e como atenuar os riscos de planejar erradamente? Conforme explico em meu livro Manual do Reestruturador de Empresas, qualquer empresa tem três grandes áreas: Comercial, Produção (ou operações) e Administração. Nele oriento que a decisão de produção da fábrica deva ser monitorada pelo seu departamento de Planejamento e Controle da Produção (PCP). O processo decisório começa a partir da demanda da área comercial, com base na quantidade de vendas esperadas para determinado mês, seja em função da sazonalidade do produto (no verão vende-se mais bebidas que no inverno), bem como dos pedidos e do comprometimento com os varejistas de sua base de clientes. A área comercial, que sempre quer prateleiras cheias, precisa convencer ao financeiro quanto ao comprometimento do custo das compras e do processamento das matérias primas, inclusive atentando para a necessidade de o fluxo de recebimentos do produto acabado ser maior e anterior ao do pagamento aos respectivos fornecedores. E tem outros detalhes, como prazo de validade dos itens do processo, inclusive do produto acabado, estrangulamentos no fluxo de recebimento ou entrega etc. Se for produto alimentício, o giro deve ser o mais rápido possível e o planejamento do giro muito menos sujeito a erros. Segue um gráfico exemplificativo do funcionamento da área de PCP:
Repare que essa sofisticação aumenta conforme a diversidade de produtos fabricados pela indústria. Esse tipo de preocupação, de planejar as compras em torno do que se estima que venderá, é igualmente importante nas empresas do varejo, ou seja, no caso de compra e venda de produtos acabados.
Trazendo para o universo do empreendedor iniciante, fica aqui a forte recomendação de que seja feito um planejamento semelhante quando for iniciar um negócio. Estimar a quantidade de itens que serão vendidos ao longo do tempo permite avaliar se a equação abaixo, de apuração de resultado, resultará em algum lucro. Cuidando atentamente para que não haja perdas de estoque nem estrangulamento por falta de capital de giro, pagamentos das prestações do food truck etc.:
RESULTADO = RECEITA (-) CUSTO DAS MERCADORIAS (-) IMPOSTOS (-) CUSTOS FIXOS (salários, aluguéis, juros etc.)

Bons negócios!

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