Um querido amigo me comentou, preocupado, do número de
food trucks “encostados”, meio sem
uso. Ele me perguntou se seria um problema de gestão. Acredita que o problema seja derivado da incapacidade daquele empreendedor em tocar o negócio. De fato, digo-lhe que a situação pode de fato ser encarada
como um problema de gestão, uma vez que ‘planejamento’ é ferramenta essencial da
boa gestão. Mas o que seria um bom planejamento? É muito provável que, nesse
caso, o empreendedor não tenha sido muito prudente em suas estimativas de
vendas potenciais, em que pese estarmos vivendo uma grande crise no país.
Observemos o caso de uma indústria já existente há vários
anos, por exemplo, uma fabricante de cerveja. Que etapas demandam cuidado com
planejamento nesse tipo de negócio?
Primeiramente imaginemos que esse fabricante esteja
em expansão e pretenda abrir uma nova fábrica na região norte do país. Que motivos
podem levá-la a tal nível de investimento? O principal é um aumento das vendas
que supere o risco e o valor a investir. Precisa computar com cuidado suas motivações, como a razão por
que acredita no aumento do consumo, que pode ser decorrente da emigração em
virtude da expansão econômica da região; o oferecimento de incentivos fiscais,
ou seja, a redução de impostos como ICMS, por dez ou vinte anos, desde que a fábrica
nova empregue pelo menos 1.000 novos empregados; economia dos custos de
transporte de mercadorias para aquela parte do país; concorrência fraca etc.
Além desses fatores, o planejador daquela nova fábrica precisa estudar como
será feito o financiamento daquela nova unidade fabril, inclusive capital de
giro, até que se equilibre seu fluxo de caixa. Infelizmente já vi grupos econômicos
que, por empolgação, não colocou todos esses fatores em perspectiva, ou seja, não
fez um planejamento apropriado. Resultado: construiu uma fábrica fabulosa e
inovadora, mas que não chegou a funcionar porque não tinha capital de giro para
adquirir matérias primas, contratar operários etc. Fechou e arrastou toda a parte
saudável do grupo para um cipoal de dívidas.
Mas há situações bem mais corriqueiras, cotidianas mesmo,
que demandam relevante atenção e cuidado do planejador financeiro. Imagine uma indústria
de refrigerantes de uma marca qualquer. Que tipo de preocupações seu planejador
precisa ter, e como atenuar os riscos de planejar erradamente? Conforme explico
em meu livro Manual do Reestruturador de Empresas, qualquer empresa tem três grandes
áreas: Comercial, Produção (ou operações) e Administração. Nele oriento que a
decisão de produção da fábrica deva ser monitorada pelo seu departamento de
Planejamento e Controle da Produção (PCP). O processo decisório começa a partir
da demanda da área comercial, com base na quantidade de vendas esperadas para
determinado mês, seja em função da sazonalidade do produto (no verão vende-se mais
bebidas que no inverno), bem como dos pedidos e do comprometimento com os
varejistas de sua base de clientes. A área comercial, que sempre quer prateleiras
cheias, precisa convencer ao financeiro quanto ao comprometimento do custo das compras
e do processamento das matérias primas, inclusive atentando para a necessidade
de o fluxo de recebimentos do produto acabado ser maior e anterior ao do pagamento
aos respectivos fornecedores. E tem outros detalhes, como prazo de validade dos
itens do processo, inclusive do produto acabado, estrangulamentos no fluxo de
recebimento ou entrega etc. Se for produto alimentício, o giro deve ser o mais rápido
possível e o planejamento do giro muito menos sujeito a erros. Segue um gráfico
exemplificativo do funcionamento da área de PCP:
Repare que essa sofisticação aumenta conforme a
diversidade de produtos fabricados pela indústria. Esse tipo de preocupação, de
planejar as compras em torno do que se estima que venderá, é igualmente
importante nas empresas do varejo, ou seja, no caso de compra e venda de
produtos acabados.
Trazendo para o universo do empreendedor iniciante,
fica aqui a forte recomendação de que seja feito um planejamento semelhante quando
for iniciar um negócio. Estimar a quantidade de itens que serão vendidos ao
longo do tempo permite avaliar se a equação abaixo, de apuração de resultado, resultará
em algum lucro. Cuidando atentamente para que não haja perdas de estoque nem estrangulamento
por falta de capital de giro, pagamentos das prestações do food truck etc.:
RESULTADO = RECEITA (-) CUSTO DAS MERCADORIAS (-)
IMPOSTOS (-) CUSTOS FIXOS (salários, aluguéis, juros etc.)
Bons negócios!
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