Projeto Árvores Frutíferas, um sonho pessoal, por Ricardo Negreiros

Imagine um mundo mais arborizado, onde os alimentos são abundantes nos campos, nas estradas e nas florestas, bem parecido com os primórdios da jornada humana. Comida, sombra e captura de CO2 constantes, com crianças conscientes de sua responsabilidade e de seu respeito pela vida. É um sonho bonito, não é?
PARTE 1 - DA GERMINAÇÃO DA IDEIA
A ideia do projeto começou quando eu estava no interior do Maranhão há uns treze ou quatorze anos e vi que havia muita vegetação basicamente formada de pequenos e grandes arbustos nos dois lados da estrada, sem frutificação aparente, e pensei:
"A natureza faz um esforço tremendo (solo, luz e água) para edificar esse tipo de vegetação, mas grande parte dele deve ser estéril do ponto de vista alimentar humano. Que bom seria se esse esforço da natureza em desenvolver a vegetação fosse direcionado para árvores que dessem frutos. O resultado é que serviriam tanto como suporte alimentar aos seres humanos quanto aos animais pelo mundo afora. E de graça...".
Dali em diante se tornou um sonho bonito pensar em como seria bom se os grandes espaços vazios, no planeta como um todo, pudessem ser preenchidos com árvores frutíferas.
Enquanto sacolejava naquela estrada esburacada, pensei em quem poderia colaborar na execução da tarefa de plantio. Logo em seguida surgiu a segunda ideia central do projeto: crianças, com a ajuda de seus professores.
A infância é a fase mais importante de inserção de valores e boas regras mentais nos indivíduos. As crianças costumam ter, no geral, a experiência de conhecer e respeitar a vida basicamente por meio do contato com seus bichos de estimação. Mas os bichinhos já chegam “prontos” em suas mãos, e as crianças não sabem de onde vêm, como são germinados ou mesmo como se desenvolvem.
O conceito final do projeto, portanto, tem mais esse apelo: as crianças podem e devem plantar árvores frutíferas nos lugares onde for possível e de uma forma que possam acompanhar o seu desenvolvimento. Primeiramente seriam orientadas a guardar as sementes de frutas em suas casas, pois hoje jogamos fora muitas toneladas delas todos os dias. Depois as aproveitariam desenvolvendo mudas, ou por meio de outras técnicas didaticamente apropriadas, como a “muvuca” – ver parte 3. Em suas cabecinhas teriam o privilégio de dizer que “são capazes de criar vida e de ajudar a consertar o planeta”. Uma experiência que guardariam por toda a vida, ainda mais forte se puderem acompanhar o que plantaram por meio de alguma forma de identificação e mapeamento. Elas se sentiriam responsáveis por uma pequena parte da vegetação do planeta, e ficariam para sempre orgulhosas do seu poder em criar vida.
Numa época em que nosso país apresenta tantos maus exemplos de violência essa seria uma excelente oportunidade para disseminar valores positivos, de respeito à vida, para os nossos jovens.

PARTE 2 - DE COMO COLOCAR EM PRÁTICA
A ideia mais simples e menos complexa é a criação de extensos pomares onde hoje não haja vegetação. Olhando em muitas áreas do estado do Rio de Janeiro, por exemplo, podemos ver extensos lugares sem vegetação, decorrentes do desmatamento para café ou para pastagem de gado que não existem mais há muitos e muitos anos.
Não gostaria que o projeto fosse tratado de forma “purista”, plantando apenas árvores naturais de cada região, porque isso provavelmente criaria uma limitação inconveniente ao projeto. Em conversas com técnicos descobri que essa abordagem requereria outras estratégias bem mais complexas. Portanto, em minha opinião basta que as espécies devam conter determinadas características de adaptabilidade potencialmente harmônicas à vegetação local, bem como, claro, aos seres humanos e aos animais da região. Podem ser desde simples árvores especiais que componham um ecossistema perene, incluindo frutíferas que sirvam especificamente para aves e pequenos animais, até as mais populares, como goiabeiras, mangueiras etc.
Também insisto no foco quanto às crianças. O diferencial deste projeto em relação a outros semelhantes é que em todas as áreas de plantio possam se desenvolver formas de marcação dos lugares onde a meninada plantará. A partir de um ou dois pontos identificados por GPS, um traçado geométrico consegue determinar onde elas estão plantando, de forma individualizada. Cada pequeno lote fica assim identificado com o nome do seu jovem plantador, de forma que possa sempre voltar para visitá-lo no futuro.

PARTE 3 – O CASO PRÁTICO
Em novembro de 2009 descobri que um cliente do setor agropecuário estava contratando o Instituto Socioambiental (ver www.socioambiental.org), OSCIP com tradição e competência no segmento, com reconhecimento internacional, para plantar árvores em uma área de cerca de 10km de extensão, ladeando estradas da fazenda. Conversando com eles, mostraram-se plenamente sintonizados com as nossas ideias. Eles têm um método genial, chamado “muvuca”, onde selecionam dezenas de sementes de várias espécies e plantam no mesmo local. Por seleção natural, sobreviverão aquelas que tiverem maior força de adaptação.
Nessa fazenda fizemos nossa primeira experiência com crianças de uma escola próxima. Foram elas quem colocaram as sementes em uma extensa área do projeto.

PARTE 4 – O SONHO CONTINUA
Continuo sonhando que o projeto se expanda em muitas e muitas áreas hoje carentes de vegetação e mesmo de água, pois há sementes com grande capacidade de adaptação. Lembrando sempre que a vegetação é capaz de reter água e umidade no solo.
Poderíamos promovê-lo em terrenos abandonados pelas prefeituras na capital ou no interior, parques, propriedades particulares ou onde mais seja preciso reflorestar etc. Qualquer pequeno espaço, dentro da nossa estratégia de ocupação geral harmônica, poderia ser aproveitado.

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