Meu diploma de 1985
como Engenheiro Civil, em Cálculo Estrutural, não me dá condição de explicar
tecnicamente as tragédias de Mariana, Brumadinho e menos ainda as quedas dos
aviões Boeing 737 MAX na Indonésia e Etiópia. Mas ao imaginar a agonia que centenas
de inocentes sofreram enquanto morriam, e a dor dos que os amavam, acredito que
poderiam ter sido evitadas, caso as empresas funcionassem de certa forma. É com
essa perspectiva que desenvolvo este ensaio.
A
pergunta que pretendo responder é: como analisar a responsabilidade (ou culpa)
sobre acidentes, erros e irregularidades em um produto ou indústria, ao
examinarmos a intrincada rede de relacionamentos, escopos e responsabilidades
das atividades corporativas?
Minha
primeira preocupação num projeto de reestruturação é definir o organograma
funcional. Essa ferramenta permite esboçar o funcionamento esquemático da
empresa a partir de:
1. Delimitação dos escopos e responsabilidades – quem é o “pai” ou a “mãe da criança”? Não
pode sobrar nenhuma tarefa, processo ou atividade sem que haja um responsável
consciente de seu papel.
2. Estabelecimento da linha de comando – quem é responsável por quem? Quem presta
contas a quem? Como e quando chefes e subordinados são formalmente avaliados?
3. Indicativo da relação “cliente x fornecedor” na
estrutura – uma área ou departamento pode
ser considerada cliente de outra área ou departamento e vice-versa. Exemplo: o
DP (departamento de pessoal) é cliente do PCP (planejamento e controle de
produção) pois precisa receber deste os apontamentos das horas extras da
fábrica. A posição inverte quando ao final do mês o DP precisa enviar ao
“cliente” PCP os contracheques dos operários.
Não pretendo aqui me
estender muito além desses comentários e do que este organograma
simplificado podem fornecer, pois são elementos do cotidiano das empresas de
conhecimento do estimado leitor por familiaridade profissional e seu próprio
poder de observação.
No
entanto, o que gostaria de chamar à atenção é que muitos gestores, por distração,
conveniência ou mesmo orgulho de suas posições, parecem não se dar conta que o
único grupo de indivíduos que não tem responsabilidade direta pelo desempenho
geral do negócio e pelo que nele acontece é o acionista. Sua única e principal
tarefa é capitalizar o empreendimento e cobrar que todos os contratados, dos
conselheiros aos mais iniciantes estagiários, trabalhem juntos, de forma
corresponsável, em equipe, e produzam o melhor resultado do ponto de vista da
lucratividade e da perenização das operações. Todo e qualquer profissional da
empresa, inclusive os conselheiros, presta contas para alguém acima e, quando
em cargo de chefia, tem ainda a obrigação adicional de motivar e desenvolver
profissionalmente os que estão sob o seu comando.
Logo,
se um operário sofre um acidente na fábrica, os primeiros responsáveis são ele
mesmo e seu coordenador direto; o gerente que os contratou e que é pago para os
supervisionar; o diretor que os contratou e que é pago para os gerenciar; o
presidente e, por fim, os conselheiros que os contrataram. Da mesma forma, um
produto que não funciona a ponto de oferecer riscos ao consumidor, os
responsáveis são todos da linha de comando dos envolvidos, a começar pelo mais
alto escalão. Essa visão, associada a ferramentas de avaliação de desempenho
geral, funcionam como um controle de qualidade (CQ) de toda a estrutura, assim
como é indispensável um CQ na área fabril.
Os
componentes do Conselho de Administração são responsáveis por contratar
adequadamente os principais executivos mas, principalmente, por assegurar uma
discussão profunda do que acontece na empresa. É imprescindível que a monitorem
por meio de reuniões regulares com o presidente e a diretoria, os quais
apresentam relatórios sistemáticos e abrangentes quanto a todos os aspectos do
desempenho e da evolução dos negócios. Mas também são responsáveis por
estabelecer uma cultura de cuidados sobre o que possa resultar em risco de
capital, lucratividade ou imagem da empresa. Devem, portanto, instituir a
consciência do zelo e respeito à vida, acima de tudo, inclusive porque é o tipo
de descuido com maior potencial de afetar o resultado e a continuidade das
operações.
Em suma, o Conselho de Administração de uma empresa precisa ter valores éticos, competência técnica e vitalidade para enxergar além do que lhes é trazido para discussão, por profissionais igualmente hábeis e aptos para, juntos, administrarem adequadamente o empreendimento, satisfazendo o que lhes foi demandado e contratado pelos acionistas.
Em suma, o Conselho de Administração de uma empresa precisa ter valores éticos, competência técnica e vitalidade para enxergar além do que lhes é trazido para discussão, por profissionais igualmente hábeis e aptos para, juntos, administrarem adequadamente o empreendimento, satisfazendo o que lhes foi demandado e contratado pelos acionistas.
Com
senso de equipe.
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