24 de dezembro de 2019, 19:16
horas, acabo de chegar em Berlin.
É
noite, chove um pouco, frio de 9o C, um pouco mais ameno que Amsterdã.
No
balcão de informações do aeroporto, a moça de rosto redondo e chapéu de Noel me
orientou com simpatia e precisão como chegar no hotel numa mistura de ônibus e
metrô. Sempre tenho compaixão por quem trabalha nos feriados. Fui-lhe
genuinamente simpático e acabei ganhando um saquinho vermelho que ainda não sei
o conteúdo. Um mimo escrito “Berlin Welcome Card” que parece ser jujuba. Não me
atrevi a perguntar o que era, tudo aqui tem muitas letras. Antes dela um senhor
baixinho de uniforme do aeroporto já havia me ajudado, direcionando-me ao
balcão. Não sabia que havia baixinhos em Berlin. Nem gente simpática. Como pela
vida.
A
cidade parece meio vazia pelos lados do meu hotel, que aliás é confortável,
inclusive no nome. E me encontrei sozinho com meus devaneios, por isso
sentei-me logo para escrever.
Por
muitos anos li livros, vi filmes e documentários sobre essa cidade. Mais pelas
grandes decisões políticas e militares do que por outra razão. Aqui viraram o
século XIX para XX já com planos de expansão beligerante pela Europa,
simultaneamente por dois flancos, França e Rússia. Daqui decidiu-se tentar
conquistar o mundo pela dor. Aqui viveu-se a glória passageira e a derrocada
definitiva de pensamentos de domínio e subjugação. Como na vida.
Interessante
se dar conta de algumas verdades. Corações gélidos respiraram o ar que tocou
monumentos que estão à minha volta. Corações aflitos andaram por aqui se
fantasiando em sisudez para não parecerem frágeis diante de Satã. Estômagos
ácidos sentiam que o mundo estava por cair. Inocentes agiram e morreram como
inocentes. Culpados agiram e mataram como ainda mais culpados. No caos fazia-se
pose de calma e simetria. Não havia Natais, às vezes, como na vida.
Cidade
cobiçada pelos que traziam a espada da justiça e da ordem, mas também o martelo
contendo o doce sabor da vingança. Cidade louca, que na tentativa de mostrar
altura, demonstrou por meio de seu comandante mais importante a fraqueza da
covardia, a sua imensa pequenez. Um suicida em débito não tem o direito de
partir sem prestar contas. Como na vida.
Por
outro lado é reconhecida a força desse povo repleto de gênios da ciência e do
empreendimento. Que em poucos anos construiu uma das maiores economias do mundo
a partir do zero. De fato um povo tenaz, trabalhador, respeitável. Que lutou
por sua unificação. E que agora, como vi no metrô, cada vez mais se mescla com
diferentes e leves sorrisos e almas. Assim espero. Como na vida.
Acabo
de chegar em Berlin. Estou cansado. Turismo cansa. É Natal, mas não devo sair.
Feliz
Natal a todos nesse mundo cada dia mais diferente. Lembrem-se dos seus
bichinhos e dos outros bichos pelo mundo afora. Eles aqueceram Jesus na noite
de seu nascimento. Nos acompanham, nos alegram e há os que sofrem para nos
alimentar.
Comentários
Postar um comentário