Sua empresa toma empréstimos do tipo "Rezadeira"? por Ricardo Negreiros

Para um bom planejador financeiro, tomar empréstimos (financeiros) tem basicamente três finalidades bem distintas:

Tipo 1 – Para financiar investimentos objetivando obtenção de receita, com a qual quitará o próprio empréstimo. Há, portanto, contrapartida clara de ativos produtivos, como exemplos:

. Compra de estoque;

. Eventual financiamento do ciclo de vendas - ver comentários sobre (*) empréstimo de Capital de Giro;

. Aquisição de máquinas e equipamentos;

. Projetos ou ativos produtivos novos, como terrenos, galpões, lojas;

. Reforma da linha de produção; etc.

Tipo 2 – Para quitar despesas não essenciais e/ou não diretamente associáveis à obtenção de renda, cujo fruto poderia quitar o próprio empréstimo. São exemplos:

. Contas administrativas não essenciais;

. Projetos genéricos de marketing;

. Veículos de passeio;

. Emprestar a sócios; etc.

Tipo 3 – Para emergências não planejadas.

Por óbvio se conclui que empréstimo bom é aquele que é usado para gerar, essencialmente, recursos para a sua própria quitação. E, de preferência, gerar lucro também.

O conhecido (*) empréstimo de Capital de Giro não pode ser vulgarizado. É essencialmente um reforço no caixa, eventual e custoso, para ajudar no fluxo financeiro. Se não houver cobertura de ativos a quem aquela dívida suporta pode-se estar meramente financiando prejuízos passados ou em andamento. Pelo menos o total do disponível, estoque e recebíveis somados precisa ser em valor superior ao total da soma de obrigações trabalhistas, contas a pagar (com fornecedores) e impostos indiretos, mais o referido empréstimo. Dada a alta onerosidade do CG, se houver um problema crônico e relevante de descasamento de prazo relativo a giro de estoques, prazo de compras e prazo de vendas, deve-se criar uma reserva financeira estável, evitando-se assim o pagamento de juros por empréstimos. Via retenção de lucros ou mesmo capitalização.

Empreender precisa de constante planejamento e o monitoramento frequente desse planejamento e de seus desvios. O empréstimo emergencial tomado para quitar contas em atraso, por exemplo, é um forte sinal de alerta de graves problemas econômico-financeiros na empresa. Pode-se estimar ou elaborar um plano que dá errado? Claro, pois nada é isento de risco. Mas tanto os erros quanto os acertos requerem diagnósticos analíticos de causas, consequências e contexto. Senão cada decisão se torna uma prática de gambling, uma mera sucessão de apostas no escuro, uma aventura.

Infelizmente, devido à dificuldade técnica para o padrão de gestor financeiro (diretores e CFOs) que predomina nas empresas, sejam brasileiras ou não, a tomada de empréstimos não costuma sofrer esse tipo de análise. Trata-se, muitas vezes, de um puro ato de fé. Fé de que, com aquela injeção de capital os problemas estruturais vão se resolver sozinhos, como num passe de mágica, e o empréstimo será quitado no vencimento, sem nada piorar. Então, basta mandar rezar.

No País dos Juros Altos, tomar empréstimos sem o devido planejamento costuma ser o prenúncio de fracasso. É trazer para o negócio um segundo “voraz sócio indesejado” – os bancos. O primeiro “voraz sócio indesejado”, como sabemos, é o Fisco.

É bem verdade que uma boa alternativa a empréstimos é a capitalização por meio de sócios novos ou antigos, mas cabe a estes a mesma preocupação com o tratamento e o destino dos recursos. A não ser que também sejam viciados na adrenalina dos cassinos de Las Vegas.

A esses, boa sorte!

Comentários

  1. No país dos juros altos, só o dono do negócio arrisca investir. A maior parte do crédito empresarial é para capital de giro.

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